Logo quando começamos pedalar
já escutamos de ciclistas mais experientes da importância do giro/cadência, de
manter um giro alto e constante, mas afinal de contas o que acontece no nosso
corpo, em especial em nossos músculos que torna o giro tão importante?
Para
entender melhor, vamos começar falando das especificidades de nossos músculos,
dos tipos de fibras que o compõem e suas características.
MUSCULOS ATINGIDOS
Os
músculos são divididos em 3 tipos de fibras: tipo I, tipo IIa e tipo IIb.
As
fibras tipo I são de contração lenta, e usam predominantemente o metabolismo
aeróbico (oxigênio) para produzir energia. Esse tipo de fibra tem como
característica principal a grande resistência à fadiga e produzem energia de
forma gradativa e constante. Atletas de endurance (maratonistas, triatletas,
ciclistas) tem predominância desse tipo de fibra.
ESPORTES COM PREDOMINÂNCIA DE FIBRAS DO TIPO I
As
fibras tipo IIa, são essencialmente de contração rápida, no entanto são
classificadas como fibras mistas, por usarem tanto o metabolismo aeróbico como
também o anaeróbico, elas tem uma tolerância menor a fadiga se comparadas as
fibras do tipo I.
As
fibras tipo IIb , também conhecidas como fibras glicolíticas são de contração
rápida (explosiva), e não necessitam da presença de oxigênio para gerar
energia. Elas são recrutadas em atividades que necessitam o uso de maior
força muscular e por isso desenvolvem maior força numa única contração, porém
são mais suscetíveis à fadiga. São exemplos de atletas que tem predominância
esse tipo de fibra corredores de 100 m e levantadores de peso.
ESPORTES COM PREDOMINÃNCIA DOTIPO II
A
genética é o principal fator determinante com relação ao tipo de fibra
predominante em nossos músculos. É muito comum de se ver, dois indivíduos que
realizam o mesmo treino numa sala de musculação, tem uma alimentação parecida,
no entanto atingem desempenhos e resultados diferentes.
Mas e o giro, o que tem a ver com a “tipagem” de fibras?
O
ciclismo de estrada e o mtb são modalidades de endurance/resistência, com
treinos e provas de longa duração, em que o metabolismo aeróbico é
predominante, consequentemente o tipo de fibra usada nesse tipo de prova é o
tipo I, de contração lenta e altamente tolerante a fadiga.
Quanto
maior o giro, menor será o esforço exercido pelo ciclista devido ao
recrutamento das fibras tipo I, a musculatura em cadências mais altas é
preservada, no entanto, é necessário um maior aporte de sangue e oxigênio para
a musculatura, o que exige mais do condicionamento cardiorrespiratório. Já em
giros mais baixos o ciclista faz mais força e preserva o sistema
cardiorrespiratório, mas existe um contraponto: cadência mais baixas demandam
mais das fibras tipo IIa e IIb levando os músculos e o corpo a fadiga mais
rápida.
TIPOS DE FIBRAS DE CONTRAÇÃO RÁPIDAS
Para
perceber a diferença dos tipos de fibras recrutadas durante o pedal não é
difícil: num trecho longo e plano em que a cadência é alta e constante as
fibras tipo I tem seu trabalho predominante, logo após quando pegamos uma
elevação íngreme, em que se torna necessário desempenhar mais força, as fibras
glicolíticas (tipo IIa e IIb) entram em ação, e aquela “queimação” sentida nas
pernas é uma resposta a fadiga.
Apesar
de o ciclismo ser um esporte de resistência e o tipo de fibra predominante
usada é a tipo I, de predominância aeróbica, vale ressaltar que grande parte
das provas de ciclismo são decididas nos metros finais, quando os sprinters que
guardaram todas as suas forças durante a prova usam a explosão muscular, as
fibras tipo II, para lutar pelos lugares mais altos do pódio.
Os dois
tipos de fibra são importantes e interdependentes, é impossível pensar
isoladamente num ou noutro tipo de fibra para otimizar o desempenho. Por mais
que o ciclismo seja um esporte de endurance (longa duração), exigindo
predominantemente as fibras tipo I (de resistência), as fibras tipo II (força e
explosão) também tem papel fundamental – “Nunca
vi provas/treinos de ciclismo em que todos andam no mesmo ritmo e em
percursos planos” -.
Treinos
de volume, em que se enfoca a distância percorrida e o giro alto e
constante estimulam mais as fibras resistentes. O treinamento intervalado e o
treino de montanha (de elevação) são estratégias bastante interessantes
para trabalhar as fibras de força e explosão.
Na
academia é possível realizar treinos específicos para o recrutamento das fibras
tipo I e II .Quando bem planejado
e orientado, o trabalho em conjunto entre a musculação e o ciclismo é
essencial, previne lesões e melhora o desempenho. Vale
ressaltar que o acompanhamento de um Educador Físico qualificado faz toda
diferença.
Para
encontrar a cadência/giro ideal demanda tempo e consciência corporal, procure
realizar um giro/pedalada redonda, harmônica, em que as duas pernas exerçam a
mesma força e velocidade, se atente para a troca de marchas nos momentos corretos
e lembre-se: quanto menor a oscilação da força da pedalada mais efetivo será o
giro/cadência, consequentemente melhor será o seu rendimento.