Muitas são as questões que envolvem a Educação Física atualmente.  Como as questões relativas a sua função como disciplina curricular, sua  legitimidade e principalmente relativas ao grau de relevância de seu  currículo.
Como sabemos que não é só a educação que passa por este  momento de discussão de valores, torna-se mais simples entender que  qualquer instituição passa por processos sociais que visam sua transição  para padrões mais modernos que venham a atender novas demandas que  surgem a partir do progresso e do desenvolvimento tecnológico causado  pelo mesmo.
Partindo desse pressuposto, pretendemos discutir uma  questão restrita a uma das ramificações da Educação Física que é a  Educação Física Escolar e seus conteúdos pedagógicos, observando a  utilização ou não de instrumentos educacionais que, ao nosso ver são de  fundamental importância: os jogos e brincadeiras infantis.
 Ao observarmos algumas aulas de Educação Física para turmas de  1º segmento do ENSINO FUNDAMENTAL 1, constatamos que cada vez torna-se menos  observável a utilização de jogos e brincadeiras que não possuam  interligação direta ou indireta com o desporto.
A respeito dessa situação, Faria Jr. (1996) Comenta que:
 "A respeito dos jogos populares a nossa realidade escolar, não  se fará sem oposição. Primeiro será necessário convencer os educadores  da seriedade do jogo como atividade na escola." (p.17)
Podemos  salientar que a não utilização destas atividades pode ser explicada pelo  alto grau de esportivização em que a Educação Física está envolvida  desde a década de 70, supervalorizada pela mídia, ferramenta do modelo  capitalista, que dita as normas de utilização e valorização de  atividades a partir do que as mesmas possam gerar de retorno para a  classe dominante.
É neste instante que a Educação Física passa a  possuir a importância de servir como momento inicial de disseminação  destes padrões, deixando de lado o que não tem valor para o sistema e  estimulando as massas a cada vez mais a se interessarem em atividades  com regras prontas que as inibem de exercitar suas capacidades e  possibilidades de adquirir autonomia.
 A mídia tem papel fundamental  neste processo de ordenação das atividades utilizadas pelo professor de  Educação Física em suas aulas, ditando as normas que o consumismo de  nosso sistema econômico utilizam para manter as engrenagens funcionando.
  
Situação Problema.
Como podemos observar, a crise que envolve a Educação brasileira,  reflete diretamente sobre a Educação Física, pois como um dos  seguimentos do sistema de ensino, a Educação Física Escolar não deixa de  ser como a própria Educação, um reflexo da sociedade em que está  inserida por conseguinte, está sujeita aos mesmos processos sociais e  problemas que os constituem.
Observando as aulas de Educação Física  em escolas públicas e particulares, podemos constatar, dentre outras  questões, uma que consideramos de fundamental importância para o  professor de Educação Física e para o cotidiano escolar em que se  encontra inserido: a não utilização de jogos e brincadeiras infantis nas  aulas de Educação Física.
Levando em consideração que os professores  possuem um conteúdo abrangente relativo a existência e utilização de  tais jogos, a partir de sua formação acadêmica, onde adquiriu  conhecimentos sobre recreação, psicomotricidade, lazer, folclore, etc,  alicerçadas nos jogos e brincadeiras infantis (considerados molas  mestras para a aquisição de conteúdos relativos ao desenvolvimento  psicomotor da criança), torna-se interessante descobrir a causa do quase  total abandono dessas atividades (jogos e brincadeiras infantis), em  detrimentos de outros conteúdos, nem sempre apropriados para faixas  etárias diferenciadas.
Faz-se necessário, portanto, salientar que  este estudo parte do pressuposto que os jogos e brincadeiras infantis  não são utilização nas aulas de Educação Física e busca constatar o  porquê desta não utilização, cujo valor pedagógico dessas atividades,  procuraremos ressaltar no decorrer deste estudo.
  Justificativa.
 Após uma minuciosa pesquisa, feita com professores de Educação  Física na cidade de São Miguel dos Campos, (o estudo "A utilização dos jogos e  brincadeiras infantis nas aulas de Educação Física", IBESA-2011)  constatamos que boa parte desses professores, tanto em escolas públicas  quanto em particulares, além de não fazerem uso das atividades  mencionadas, desconhece suas características culturais e educacionais,  as quais procuraremos expressar sucintamente nesta justificativa.
Por  serem os jogos e brincadeiras infantis, atividade de fácil organização,  materiais acessíveis e por possuírem formas de conhecimentos  tradicionais provenientes de nossa cultura, consideramos que este estudo  merecia ser desenvolvido de forma aprofundada, com o intuito de  oferecer aos professores de Educação Física, o real valor  didático-pedagógico destas atividades, de forma a embasá-los em suas  atividades no cotidiano escolar.
Por conseguinte, desejamos salientar uma contraposição aos valores  culturais impostos pela mídia que sufocam e inibem os diferentes  segmentos sociais de terem acesso a estas formas relevantes de  enriquecimento intelectual e cultural existentes nos jogos e  brincadeiras infantis e por conseguinte contribuir para o aumento das  possibilidades curriculares, relativas ao cotidiano escolar, como no  caso das aulas de Educação Física, cujo conteúdo apresenta plenas  possibilidades de aquisição de conhecimentos diferenciados
  Objetivo
- Constatar se os professores de Educação Física tem utilizado ou  não, os jogos e brincadeiras infantis em suas aulas escolares para o  primeiro segmento do 1º grau.
- Identificar as razões para tais atividades serem ou não utilizadas em aulas de Educação Física.
- Discutir teoricamente o problema à luz do paradigma da cultura corporal.
  Considerações Metodológicas
Após escolhemos a abordagem empírico-analítica (Gamboa. 1989)  para nortear nossa pesquisa, e como estratégia o estudo de caso,  partimos para a escolha de um instrumento que ao mesmo tempo agilizasse a  pesquisa e por conseguinte trouxesse o maior número de informações  sobre a realidade abordada para que alcançassemos a conclusão de nosso  estudo.
Foi através de um questionário que recolhemos as informações que concorreram diretamente para o fechamento do estudo.
   Conclusão
 Após a análise das informações recolhidas durante a coleta de  dados, encontramos algumas informações que condizem com a expectativa  por nós apresentada no decorrer do estudo.
A grande maioria dos  professores entrevistados através do questionário (mais de 70%)  demonstrou relativo desprezo pela utilização dos jogos e brincadeiras  infantis em suas aulas, bem como o desconhecimento dos aspectos  culturais, educacionais e históricos contidos nestas atividades.
 Outro parecer interessante obtido na pesquisa foi que os jogos e  brincadeiras infantis quando não ficaram em 6º ou 7º lugar entre as  demais atividades apresentadas para comparação (jogos pré-desportivos,  educativos técnicos, contestes, piques, brinquedos cantados, atividades  folclóricas), sequer foram indicadas como qualquer prioridade no  contexto das aulas de Educação Física.
É a partir destes pressupostos  que chegamos a conclusão que os jogos e brincadeiras infantis não  possuem qualquer importância no contexto das aulas de Educação Física,  tanto pelo desconhecimento de suas propostas e valores intrínsecos como  pela falta de espaço hábil para sua utilização devida a supremacia de  outros conteúdos nem sempre condizentes com a faixa etária  característica do 1º segmento do 1º grau.
 Com ênfase nesta conclusão, buscaremos a partir deste estudo,  desenvolver um próximo estudo que visará realizar uma pesquisa minuciosa  dos diferentes tipos de jogos e brincadeiras infantis utilizáveis nas  aulas de Educação Física e seus aspectos culturais e educacionais, bem  como buscar no currículo relativo a Educação Física escolar no 1º  segmento do 1º grau formas pelas quais este conteúdo de significativa  relevância poderá aumentar a gama de possibilidades dos professores de  Educação Física no cotidiano escolar
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